REPORTAGENS


S10 Super Production
OS SEGREDOS DO SUCESSO

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Acompanhamos a transformação de uma pacata S10 de rua em uma máquina imbatível nas últimas edições do Rally dos Sertões

Por Ricardo Lopes da Fonseca
Fotos Reinaldo Rollo

A picape S10 da equipe Chevrolet Rally Team abre espaço no trânsito de Belo Horizonte, Minas Gerais. Olhares admirados, espantados e outros tantos desconfiados, como bons mineiros. A picape, metade azul metade branca, causava estranheza: "Aonde esse doido vai com um brutamontes desses?", devem ter pensado. Na parada no posto de combustível, um garoto se aproximou: "Para que serve essa chaminé aí atrás?" Ele se referia à entrada de ar elevada que fica na traseira da cabine. Pensando bem, até que se parece mesmo com uma chaminé...

Fomos ao estado mineiro para ver de perto o nascimento da S10 de rali na sede da Off Limits Motorsports, empresa responsável pelo Chevrolet Rally Team. A história da equipe começou em 1999, quando estreeou no Brasileiro de Cross Country, com uma picape importada dos Estados Unidos. Os problemas foram muitos e os bons resultados não vieram. A equipe resolveu arriscar e preparou uma S10 brasileira para 2000. E deu certo: desde então, o carro venceu todas as edições dos Sertões.

Quando chegamos à sede, em Contagem, na Grande BH, todos trabalhavam pesado na preparação dos carros deste ano. Uma S10 zero-quilômetro mal cruzou o portão e já foi direto para o desmonte. Enquanto o modelo original perdia suas características, surgiam os detalhes da picape de rali. Tanto da categoria Production como da Super Production.

A preparação da Production tem grandes limitações. Mas na outra os engenheiros e técnicos da Off Limits podem abusar da imaginação. Ao mesmo tempo em que o carro é desmontado, as peças projetadas no computador ganham forma. Segundo o diretor-técnico, Pedro Barroso, a empresa pesquisou muitos materiais, conceitos e soluções tecnológicas nas constantes viagens para os Estados Unidos e Europa. "Nós aprendemos muito, mas tivemos que elaborar um método para desenvolver o carro aqui mesmo", afirma. O primeiro modelo levou cinco meses para ficar pronto. Atualmente, o processo dura 45 dias.

De um lado, a gaiola de proteção vai sendo construída pelos soldadores. Do outro, a suspensão original dá lugar a um conjunto de competição da marca alemã Bilstein. No chassi original são detectados os pontos em que ocorre maior esforço, nos quais são soldados reforços. Em outros pontos é feito o contrário, para aliviar o peso. Enquanto a S10 recém-chegada segue pela linha de produção, a futura picape do tricampeão dos Sertões, Édio Füchter, está na fase final de acabamento. O chassi pronto recebe a cabine com o santântonio e a gaiola termina de ser soldada por toda a extensão do carro. Feitas em fibra, assim como os pára-lamas, as laterais da caçamba perdem toda sua parte interior para compensar o aumento de peso. Com tudo isso, a S10 de rali ainda é 145 quilos mais pesada que a de rua. As bandejas de suspensão são colocadas e depois são instalados dois amortecedores Bilstein e um batente hidráulico por roda.

O curso da suspensão é limitado na compressão, quando absorve o impacto, pelos batentes. Uma cinta limita o curso no retorno a fim de preservar as homocinéticas. O sistema é complementado pelo "by-pass" que permite regulagens para os mais diferentes tipos de terreno. Neste ano, a equipe estréia um eixo desenvolvido pela Dana, além de novas rodas da Scorro.

A parte interna da cabine começa a receber o acabamento. O piloto Édio Füchter gosta de ter o painel original instalado para evitar os pontos de fuga e reflexos na visão. O motor MWM é alterado na própria fábrica. Apesar de manter muitas características originais, como diâmetro e curso dos pistões, os bicos injetores são trabalhados para aumentar a entrada de combustível. A turbina é um modelo exclusivo para a S10 de rali, desenvolvida pela Garret. Do original de 132 cavalos surge um outro de 240 para a Super Production. O torque de 34 kgfm a 1800 rpm, sobe para 58 kgfm a 2600 rpm.

A S10 já ganha os últimos toques antes de entrar na pista. A parte elétrica e o interior são finalizados. No lugar dos bancos originais, entram os Sparco. Junto aos medidores de fábrica, são incluídos os marcadores de pressão do óleo, da temperatura da água e da pressão da turbina e o conta-giros.

Agora é hora de funcionar o motor e curtir as emoções proporcionadas pelos 120 mil reais investidos. Partimos para um trecho que mescla asfalto, terra batida, pedras e, como não poderia deixar de ser, um pouco de lama. Mesmo sendo uma recém-nascida, a picape já sabia se virar muito bem.

Ao meu lado, o diretor Luis Hass acenava para apertar o pé. Passei com cuidado pelo primeiro buraco, mas o olhar de estranhamento de Hass me encorajava a abusar um pouco mais. À medida que acelerava, o ruído do motor MWM invadia a cabine. Quando encostava o pedal do acelerador no assoalho, aí dava gosto ver a turbina se enchendo. Dou uma aliviada e a pressão emite outro ruído fascinante. O som característico da válvula de alívio anima o pé a afundar mais um pouco. Logo vem uma curva mais acentuada e novamente o "tchssss" da turbina.

A direção possui uma caixa de redução que limita o esterçamento em meia volta para cada lado. Uma pequena virada e as rodas estavam totalmente esterçadas. A cada curva a S10 se mostrava mais amigável. Hass pedia para acelerar mais. Eu, claro, acatava. A velocidade ia aumentando, quando surgiu uma longa reta em declive. Meu navegador pediu em mineirês: "Pode carcar o fumo". Engatei a quinta e mantive o pé embaixo. O trecho esburacado fazia com que a traseira dançasse de um lado para o outro. De repente, senti as quatro rodas no ar. Foi pura emoção no primeiro salto daquela jovem máquina, que, como eu percebi, já mostrava seu temperamento de campeã.

 

FICHA TÉCNICA

S10 SUPER PRODUCTION
Motor MWM, dianteiro, 4 cilindros em linha, turbo intercooler, diesel
Potência 240 cv a 3600 rpm
Torque 58,0 kgfm a 2600 rpm
Diâmetro x Curso 93,0 x 103,0 mm
Câmbio 5 marchas à frente e 1 ré
Relação das marchas 1ª) 3,78:1; 2ª) 2,32:1; 3ª) 1,40:1; 4ª) 1,00:1; 5ª) 0,73:1; Ré) 3,55:1; Diferencial redução: 3,73:1; Caixa de transferência: 2,72:1
Suspensão dianteira Independente tipo McPherson, barra de torção com quatro amortecedores Bilstein 9100 e dois batentes hidráulicos
Suspensão traseira Eixo rígido, feixe de molas National Spring com quatro amortecedores Bilstein 9100, dois batentes hidráulicos
Direção Tipo cremalheira e pinhão, hidráulica com caixa de redução
Freios Dianteiros: a disco; Traseiros: a tambor
Rodas e pneus Scorro 7x15 polegadas GoodYear AT/S 255x75 R15
Carroceria Picape, 2portas
Tanque de combustível  120 litros
Peso 1675 kg
Preço R$ 120 mil

Fonte: Universo Rally, Ano 1, Nº 1, Março/2003
Reportagem gentilmente enviada por Eduardo Dantas

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