REPORTAGENS


Superpicapes
UM CHARME QUE RESISTE

Elas só se sentirão ameaçadas quando o Brasil abrir as porteiras para os carrões

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O sufoco financeiro do Plano Collor freou momentaneamente a invasão das picapes de luxo: tão logo os cruzeiros começaram a aparecer, elas voltaram a acelerar, mostrando que não é passageira essa moda que nasceu nos Estados Unidos, seduziu os japoneses e chegou ao Brasil por volta de 1985. Resta, porém, a preocupação com a anunciada liberação da importação de automóveis. “Nossos veículos atendem a um público de nível econômico elevado, que talvez prefira optar por modelos importados”, comenta Paulo Arantes Ferraz, diretor comercial da SR Veículos. Mas ele confia na fidelidade dos apreciadores desses carros de estilo country, mesmo levando em conta que uma cabine dupla superequipada chega a custar o dobro do que custa um Monza Classic EF, o mais caro automóvel nacional.

O fato é que, hoje, ninguém mais se surpreende ao ver uma “musculosa” e incrementada picape abrindo caminho nas ruas de nossas grandes cidades. Para um número cada vez maior de aficionados, esse tipo de carro parece ser a forma ideal de fazê-los se sentir no oeste bravio, sem renunciar ao conforto dos shopping centers. Atualmente, 60% dos compradores de picapes moram nas principais capitais do país.

Correspondendo a essa crescente e entusiasmada aceitação, a cada ano as picapes brasileiras tornam-se mais luxuosas e sofisticadas. Embora continuem desajeitadas para estacionar em vagas apertadas ou para caber nas garagens dos prédios, as picapes transformadas estão marcando uma nova tendência entre os consumidores brasileiros que não dispensam comodidade: elas passam a ser o terceiro ou o quarto veículo da família.

A picape é utilizada principalmente para viajar, mas nada impede os mais jovens de curtir a vida noturna com ela, ou as donas de casa de facilitar o seu dia-a-dia usando-a para levar os filhos à escola. Aliás, as mulheres estão descobrindo muito depressa as virtudes das picapes. “Dirigindo uma picape, nós nos sentimos bem mais seguras e respeitadas no trânsito, além da facilidade de dirigir proporcionada pela direção hidráulica”, diz Berta El Kalay, gerente de promoções e propaganda da Brasinca Veículos, uma das maiores montadoras de picapes.

Não há limites de imaginação para deixá-las o mais incrementadas possível — pintura personalizada, farol de milha, aerofólio, teto avançado, ar-condicionado, bancos giratórios e até geladeira e televisão. Além das empresas que transformam os modelos convencionais, como a F-1000 da Ford, ou a A-20, C-20 e a D-20 da General Motors, há as que são homologadas a essas duas multinacionais e por isso recebem com exclusividade os chassis que darão origem a modelos especiais de série. Eles oferecem uma vantagem importante: têm garantia das fábricas.

É o caso da Brasinca, vinculada à GM, e a Demec, a Brasilvan, a Furglass, a Sulamericana, a Engerauto e a SR, que recebem chassis da Ford. A Engerauto e a SR, por exemplo, recebem cerca de 150 chassis da F-1000, cada uma, mensalmente.

Existem também as transformadoras que trabalham sob encomenda, transformando carrocerias de modelos de série. O fato é que essa faixa do mercado tem crescido tanto que até as picapes de pequeno porte como a Pampa, a Saveiro e o Fiorino (o furgão da Fiat) estão sendo transformados. Um bom exemplo Fiat é a Tivoli, da Demec, que, na verdade, é o Fiorino trans¬formado em cabine dupla.

Mas as inovações não param por aí. A Furglass, pioneira no mercado de vans, lançou há dez anos a Furglaine, única no mercado com porta de correr e com carroceria monobloco, utilizando o chassi da F-1000. E reserva, para agosto próximo, o lançamento da sua cabine dupla, com a qual promete revolucionar o mercado. Essa nova picape ainda não foi batizada: Roberto Assupção, diretor de marketing da Furglass, promete um prêmio para quem sugerir o melhor nome. Basta escrever para ele.

Inspiradas no sucesso da Furglass, uma nova geração de empresas, com design próprio, está lançando seus modelos, embora ainda dependam da mecânica das grandes fábricas. Exemplos desses novos competidores são a Ibiza, da SR (que também utiliza chassi da F-1000), a Camper, da Envemo, baseada no jipe Engesa 4x4; e a recém-lançada minivan Futura, com mecânica da Belina 1.8, da Grancar Design.

A Anfavesp, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Especiais, registrou uma pequena queda na produção de picapes incrementadas, nas semanas seguintes à decretação do Plano Collor. “Mas já observamos um reaquecimento nas vendas, embora elas variem muito de empresa para empresa”, afirma Luiz Eduardo Camargo de Moraes Alves, secretário-executivo da Anfavesp.

Assim, para estimular as vendas de suas picapes cabines duplas, empresas como a SR e a Engerauto fizeram acordos com as concessionárias Ford, para vendê-las através de consórcios. Afinal, mais de 30% de todos os carros são comercializados assim. A Brasinca também aderiu: junto com o Consórcio Nacional Garavelo, formará grupos de 120 cotas e 60 meses, entregando duas picapes Andaluz por mês — uma por sorteio e outra por lance.

A bela e sua montaria

Dirigir uma picape não foi nenhum desafio para a atriz carioca Lúcia Veríssimo, que desde os 13 anos já arriscava uma manobra ou outra pelas ruas do Rio de Janeiro, sempre com muita habilidade.

Aliás, a cabine dupla de Lúcia combina bastante com o estilo country da atriz. Além de criar cavalos puros-sangues, de raça quarto-de-milha, Lúcia lançou a grife LV Western em roupas, calçados e acessórios há pouco mais de um ano.

Quase na mesma época, ela comprou a picape Andaluz, da Brasinca, e está muito satisfeita. “É como dirigir um Mercedes. Além disso, tenho um enorme espaço para minhas malas e selas”, comenta Lúcia que sempre usa a picape nas viagens mais longas e a trata como se fosse um dos seus cavalos: “Com a melhor ração, o melhor veterinário e muito carinho.”

Fonte: Quatro Rodas, Ano 30, Nº 6, Junho/1990
Reportagem gentilmente enviada por Fernando Figueiredo.

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